AS MARCHINHAS
CARNAVALESCAS E AS MUNDAÇAS NA SOCIEDADE CEARENSE NOS ANOS 40 A PARTIR DAS
INFLUÊNCIAS DA CULTURA NORTE-AMERICANA.
Os nostálgicos carnavais de
Fortaleza dos anos 30, 40 e 50, ficaram apenas nas lembranças dos mais velhos e
nas amareladas folhas de partituras das músicas que tocavam naquele período.
Alguns desses brincantes saudosos ainda recordam das marchinhas carnavalescas
que davam o ritmo da folia. No entanto, essa música aparentemente ingênua e
feita com o intuito de entreter, expressa muito sobre a sociedade cearense
daquela época.
Nos velhos carnavais de Fortaleza,
compositores e poetas uniam-se na criação das marchinhas que davam o tom a
festa. Lauro Maia foi o compositor cearense mais conhecido por ter os seus
sucessos tocados por grupos famosos como Os Vocalistas Tropicais e o Quatro
Azes e um Coringa, mas o maestro Silva Novo, Pierre Luz, Donizetti Gondim,
Edigar de Alencar, Waldemar Gomes e Luiz Assunção, também foram responsáveis
pela elaboração de grandes sucessos carnavalescos.
O que chama a atenção nessas
marchinhas carnavalescas é a tentativa de junção das influências
norte-americanas através do uso do fox-trot
e de algumas letras em inglês, com o jeito “Ceará Moleque”, incorporando um
estilo sátiro e jocoso que tomou forma com boêmios ilustres, como Ramos Cotôco
e Quintino Cunha. Uma das marchinhas mais emblemáticas foi criada pelo Maestro
Silva Novo e Pierre Luz. A gargalhada
era o símbolo da libertação feminina dos costumes impostos por uma sociedade
que ainda almejava “civilizar” os demais a partir das influências culturais
francesas.
A gargalhada
Viva a folia/Ave alegria/Salve o prazer/Que nos vem da gargalhada/Ou de
um sorriso de mulher!/Cante... Dance.../Mulher faceira/A existência é
passageira/Haja aventura/Riso e loucura!/No carnaval/Afoguemos nossas mágoas/E
esqueçam todo o sal/Cante... Dance.../A colombina/Meiga e danadinha/Traz o
poema/De teus olhos sonhadores/Alegria do “Iracema”/Cante... Dance.../Toda
cearense/Domina e vence/Pelo sorriso/Que nos traz ao pensamento/Evocações do
paraíso!
O interesse pela cultura
norte-americana nasce nos cearenses após o fim da Segunda Guerra Mundial,
quando “Fortaleza trocou o chapéu emplumado pela cartola de Tio Sam”. Os
Estados Unidos lançaram no mercado bens de consumo mais práticos, como as
canetas esferográficas; e mais ousados, como as meias de nylon que deixavam as
pernas das moças à mostra. Essa tendência fez emergir uma cultura cada vez
menos conservadora, que exibia todo o seu charme em épocas de carnaval, tendo a
figura das “Coca-colas” como grandes representantes.
O cordão das “Coca-colas” foi
criado por um grupo de sargentos da Aeronáutica, como uma brincadeira em cima
das moças que namoravam os soldados americanos. Essas mulheres eram criticadas
por famílias conservadoras por não aceitarem certas imposições sociais.
Rotuladas na época como “mulheres fáceis”, hoje são símbolos do processo que
ocorreu da igualdade entre os gêneros.