domingo, 3 de junho de 2012



Albert Camus e as reflexões sobre a morte. 




Em uma das entrevistas cedidas pelo filósofo e escritor Albert Camus, o foi indagado a seguinte questão: O que define o ser humano? E sua resposta foi: O homem é a única criatura que se recusa a ser o que é. 

Pode-se atribuir inúmeros significados para essa frase, mas logo que se percebe que ela guarda uma relação muito íntima entre o homem e a morte. O homem é um ser bem diferente dos outros animais e uma das características que o distingue dos demais é a cultura. Através dela, o homem cria formas de bular a realidade e as incertezas do futuro. Ele se apega, sobretudo, à ideias de vida pós-morte, que são fundamentadas em inúmeras religiões. De fato, a razão não pode desvendar completamente os mistérios da morte, mas é muito provável que depois da vida nada exista. A maioria dos homens são incapazes de atribuir a sua existência ao mero acaso e não percebem a sua pequenez perante o universo. Já os outros animais, não parecem ter noção do seu destino insólito desde o início das suas vidas. No entanto, ao se depararem com a morte, aceitam-na aparentemente de bom grado e se isolam para a chegada dela. 

Camus se preocupou boa parte de sua vida com a morte. Não é à toa que escreveu A peste e O estrangeiro, dois livros que abordam esse tema de diferentes perspectivas. Em A peste, o autor mostra um cenário apocalíptico, onde o número de mortes permite que os vivos tenham noção de sua finitude e os faz dar valor a vida, que temem a perder a qualquer minuto. O medo, a solidão e a dor gerados pela doença, podem resgatar sentimentos que antes se encontravam anestesiados como, por exemplo, a solidariedade e compaixão. Em tempos de guerras e catástrofe o homem busca um significado para a vida e a sociedade tende a entrar em um estado de depressão porque muitas vezes não encontram.


Essa reflexão filosófica-existencial também se encontra no livro O estrangeiro. No romance, o absurdo da existência é a mola mestra que conduz a história de Meursault. Indiferente à ordem do mundo, ele mata sem justificativa dois árabes na praia. Condenado, declara apenas que cometeu os assassinatos por causa do sol. Não tenta provar inocência, pois se defender representaria aceitar as regras de um jogo que recusa. É um estrangeiro entre os próprios homens. Se em  A peste ele aborda o absurdo coletivo, em O estrangeiro concentra o absurdo no indivíduo. Porém, em ambos os casos se manifestam as marcas do absurdo da gratuidade da vida, da morte e a reflexão sobre a irracionalidade do mundo.