quarta-feira, 7 de novembro de 2012

MATRIX: ENTRE O SONHO E A REALIDADE





Matrix é um filme de 1999 dos irmãos Andy e Lana Wachowski, que ainda hoje impulsiona o público ao pensamento de inúmeras questões filosóficas. Uma das frases mais emblemáticas sintetiza a relação entre Matrix e a Filosofia quando Trinity diz para Neo: "É a pergunta que nos impulsiona". A palavra filosofia significa a busca pela sabedoria e são as perguntas que impulsionam o homem pela busca do saber e não as respostas.

A filosofia ocidental surgiu na Grécia Antiga e a indagação sobre o que é a realidade sempre esteve presente  nos diálogos desses filósofos. Eles se diferenciavam dos sujeitos que acreditavam nas explicações do mundo a partir do mito e por esse motivo começavam a procurar um novo olhar sobre a vida e a morte, mesmo que  a realidade parecesse em alguns momentos dolorosa demais. 

Os Pré-socráticos aparecem na historiografia distribuídos em várias correntes de pensamento no que diz respeito à explicação da realidade. As mais conhecidas escolas eram a Jônica, Itálica, Eleática e Escola da Pluralidade. Tales de Mileto, Anaximadro e Anaximenes faziam parte da Escola Jônica, que atribuía à natureza a origem de todas as coisas. A palavra grega Physis suscitava as ideias dos jônicos. Physis pode ser traduzida por natureza, mas seu significado é mais amplo. Refere-se também à realidade, não aquela pronta e acabada, mas a que se encontra em movimento e transformação, a que nasce e se desenvolve, o fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna. Nesse sentido, a palavra significa gênese, origem, manifestação. Saber o que é Physis, assim, levanta a questão da origem de todas as coisas, a sua essência, que constituem a realidade, que se manifesta no Movimento.

A Escola Itálica tem como o seu maior representante o matemático Pitágoras. Para ele, os números levavam à explicação de todas as coisas. Na Escola Eleática representada por filósofos como Parmênides, Zenão e Melisso, concentravam-se na comparação entre o conhecimento sensível e o conhecimento racional, bem como nas abstrações, ajudando no surgimento posterior da metafísica e da ontologia. Já na Escola da Pluralidade de Anaxágoras, Empédocles e Demócrito se propôs não só um princípio para o surgimento da vida, mas vários, por isso o nome pluralidade. Demócrito, por exemplo, fez com que o átomo correspondesse ao ser (imutável e eterno como queria Parmênides) e o vazio ao não-ser. É pelo vazio que os átomos poderiam mover-se, agregar-se e desagregar-se.

Dessa forma, percebe-se que Andy e Lana Wachowski estão atentos às questões filosóficas, tendo sempre a preocupação de vincular as incertezas e buscas da "pós-modernidade" na sua narrativa. Seus personagens estão preocupados em desvendar os dilemas da essência da vida e, assim como Sócrates, buscavam a todo custo a verdade. 

Morpheus, o deus dos sonhos e filho de Hipno, tenta mostrar a verdade para Neo quando o leva para o Oráculo (Menção ao Oráculo de Delfos), que diz para ele: "Conhece-te a ti mesmo", frase célebre do filósofo Sócrates, que introduziu no ocidente as ideias de ética e filosofia moral. Assim como Neo, a vida de Sócrates mudou quando o mesmo visitou o Oráculo. Ele passou a partir de então a fazer questionamentos pertinentes aos cidadãos atenienses. Sócrates também falou a seguinte frase: "Só sei que nada sei", nos fazendo relembrar da crise de Neo por não saber ao certo se era ou não o "escolhido". 

Outra alusão feita logo no início do filme Matrix à Filosofia foi a descoberta de Neo da nova realidade e a decepção por ter vivido tanto tempo em um mundo ilusório. Platão, que foi discípulo direto de Sócrates narrou no seu livro a República "A alegoria da caverna", história que falava sobre homens que viveram sua vida toda dentro de uma caverna e por causa da escuridão só viam sombras e tinham medo de sair para a superfície. Quando um deles perdeu o medo e descobriu o novo mundo, voltou para contar a boa nova para os seus companheiros, mas só encontrou descrença. Neo também quando descobriu um novo mundo se encontrou sozinho e cheio de perguntas sem respostas, mas Morpheus e Trinity nunca prometeram uma vida fácil depois da descoberta. 

Os personagens Neo, Morpheus e Trinity estavam mais preocupados em viver na realidade por mais dura que ela fosse do que permanecer no mundo ilusório criado pelo programa de computador. Esta busca é uma metáfora sobre a relação entre a religião e a ciência, entre a pílula azul e a vermelha. Para alguns, a religião age como um purgante social, onde as pessoas se anestesiam e acham conforto para as suas dores. Os personagens de Matrix simbolizados por esta corrente de pensamento são pessoas extremamente covardes e acomodadas, que preferem o gosto suculento da carne à realidade insólita. Neo, Trinity e Morpheus já pensam diferente e por esse motivo representam a ciência e a filosofia. No mundo de Feuerbach, Sartre e Nietzsche, bem como no de Stephen Hawking e Carl Sagan, Deus é apenas uma ideia criada pelos seres humanos para suportarem a dura realidade da morte total.